sexta-feira, 3 de junho de 2011

O Uruguai e A Existência Divina, Duas Estórias Escritas nas Estrelas


Em uma época de sua vida, o saudoso José Saramago uma vez disse: ”Eu sou um quase ateu que sempre procurou a existência de Deus, mas nunca a encontrou”, como o mestre eu também, em uma fase da minha vida era um quase ateu, mas em junho do ano passado, mais especificamente na Cidade do Cabo, em um jogo de Quartas de Final de Copa do Mundo, eu enfim encontrei a presença do criador. Era Uruguai e Gana, jogo pegado, sem prognóstico, os africanos dominavam a partida e tinham em A. Gyan, seu principal jogador, com chutes fortes e muita, mas muita movimentação. Ao final do primeiro tempo em um balaço de Muntari,  Gana abriu o placar, era de fato justo, os africanos dominavam. Entretanto, chega o segundo tempo, mais exatamente aos 9 min, falta na entrada da área, me lembro claramente do momento em que eu, mais dois amigos (Pedro e o Betim) assistíamos o jogo no auditório da FACE junto de um grupo de ganeses e ao olhar para Diego Forlan, disse aos dois que estava sentindo cheiro de gol, dito e feito, meu sexto sentido já anunciava que o sobrenatural atuaria mais uma vez.

 Voltando ao jogo e ao segundo tempo, Gana retomou o expediente, eram jogadores mais fortes tinham mais fôlego, a medida que o tempo passava as pernas uruguaias ficavam cada vez mais pesadas e a pressão aumentava, o jogo ia se arrastando e as chances africanas aumentando se passaram, 30, 40 45min – e o jogo iria para o drama da prorrogação. Bem, e foi no extra-time que aconteceu o milagre. Bola cruzada, bate-rebate Gyan cabeceia, a bola vai entrando, mas, com mãos de gato, ou melhor, com as mãos de Deus, Luizito Soares em um gesto para uns rabugentos anti-desportivo e para o autor que vos escreve e a grande maioria dos amantes do esporte, um gesto de puro heroísmo. Mas enfim, o gol havia sido evitado, mas a que preço?? Era um penalty, que resultou na expulsão de uma peça chave do ataque uruguaio. Se o gol se convertesse a chance de reação era mínima, em quem iria bater era aquele que mais merecia o gol – A. Gyan – o mais bravo dos africanos, aquele que mais tentou e por sorte ou competência foi parado por Muslera, pelos defensores celestes e pelo próprio Luizito.

Foi o sopro divino, a bola subiu pra longe do gol e a classificação inédita dos sofridos africanos para uma semi-final de Copa do Mundo foi adiada, posteriormente nas cobranças de penaltys, já com o emocional fragilizado os ganeses sucumbiram e Abreu na ultima cobrança em um sinal claro de LOUCURA, cavou, ou melhor CRAVOU O NOME DOS URUGUAIOS EM UMA DAS PÁGINAS MAIS BONITAS DA HISTÓRIA DO ESPORTE. Algo de sobrenatural faria os celestes avançarem, eu reputo a Deus, alguns reputam a camisa Bi Campeã Olímpica e Bi Campeã do Mundo, aquela capaz de calar um Maracanã com 200.000 vozes. Bom esse foi o primeiro indício.

O Segundo aconteceu nessa noite de quinta-feira (2/6/2011), agora sexta. Copa Libertadores da América, o Peñarol, coincidentemente uma equipe Uruguaia, diferente da sua seleção que tem bons valores, possui um plantel limitadíssimo, todavia em termos de tradição são 5 Libertadores, 3 mundiais e mais de 40 títulos uruguaios, venhamos e convenhamos é a camisa mais pesada das américas. Voltando à campanha Carbonera, o time Uruguaio se classificou como terceiro pior segundo colocado, marcando apenas 9 pontos em um grupo com os argentinos Independiente, e Godoy Cruz, juntamente com a LDU de Quito. Nas oitavas de final jogou contra o Inter de Porto Alegre, um dos favoritos a competição, empatou em casa 1 a 1 resultado péssimo, virou o primeiro tempo perdendo de por 1 x0 até que magicamente nos 10 primeiros minutos do segundo tempo, alcançou o que parecia inalcançável – a virada. Nas quartas, seu adversário foi a Universidade Católica do Chile,primeiro jogo uma vitória por 2x0, tudo parecia tranqüilo, mas na volta os chilenos igualaram a partida, porém em um lance fortuito aos 35 min do segundo tempo Estoienoff fez o gol da classificação. Já eram duas fases que a sorte bafejara aos uruguaios. Eis que o próximo adversário era o Velez, da Argentina, time que havia apresentado melhor futebol na fase de grupos e nos mata-matas, o primeiro jogo em Montevidéu, vitória Uruguaia, mas com domínio total do Velez, com direito a bolas na trave, defesas do goleiro Sosa e o principal detalhe, o melhor jogador argentino – Maximiliano Moralez, não havia jogado. Em tese na volta os argentinos tinham tudo para trucidar o Peñarol como trucidaram todos seus adversários.
Mas a história do jogo não foi bem assim, primeiro tempo de domínio argentino, com Santiago Silva, o uruguaio que atua no comando de ataque argentino como homem mais perigoso, com muita raça, vários chutes a gol e presença, muita presença de área – lembra um certo africano que jogou contra uma certa seleção uruguaia a exatamente 1 ano. Porém em uma investida pontual e certeira o camisa 10 Martinuccio, aos 33 min deixa o limitado Mier, cara a cara com Barovero, o uruguaio domina ma,l mas consegue chutar por baixo do arqueiro argentino – 1x0 Carboneros.

 Os Uruguaios pareciam dominar o restante da partida, contendo a desorganizada pressão argentina, mas no último lance do primeiro tempo em jogada ensaiada em uma falta lateral, Zapata casquinhou no primeiro poste, Sosa rebateu a bola como um libero de vôlei, mas o volante Tobio estava ali, e como um raio em noite de tempestade empurrou a bola pra dentro, 1x1 – era tudo que o Velez desejava, ir para o vestiário com resultado igual. Começa o segundo tempo do jeito que terminou o primeiro, pressão do Velez, o Peñarol se defendia como dava e tentava em estocadas pontuais, até que numa delas, Martinuccio arranca livre pela direita, 2 contra 2 rola a bola com açúcar e com afeto para o centro-avante Moralez, em um lance até parecido com o primeiro gol, porém para a infelicidade dos uruguaios com desfecho diferente, o Delanteiro Uruguaio manda a bola por cima num gol mais do que feito. São esses lances que os Deuses do futebol castigam, e eles não demoraram tiro de meta cobrado rapidamente, Álvarez avança pela direita do ataque do Velez, toca dentro da área para o bom Martínez que ajeita para o homem do Jogo, Santiado Silva, em um chute seco virar a partida e transformar o Amalfitani em um caldeirão fervente. Tudo a favor do Velez, até que em um lance besta, uma entrada ríspida sobre Martinuccio resultou na expulsão do zagueiro Ortíz, um banho de água fria para os argentinos, que nem por isso desistiram, não podiam desistir a força que vinha das arquibancadas era grande demais, o barulho ensurdecedor, o grito da torcida suprira a falta do defensor expulso. Até que aos 30 min o inusitado, Martinez avança pela direita contra dois marcadores, lance parecia morto, mas o argentino descolou um elástico que fora rechaçado, mas no bate-rebate a bola acabou pipocando na área, houve a queda, silêncio no estádio. Penalty para o Velez, todo suor se transformaria em lágrimas, o time inferiorizado numericamente, mas embalado por sua apaixonada torcida tinha a chance da justíssima classificação, e justamente nos pés dele – Santiago Silva – o autor do gol da virada e melhor em campo, artilheiro do Velez na temporada e uma das referências do time. Bom, é até meio difícil descrever mas, olhar confiante – um tigre prestes a dar o bote – o atacante corre para bola, o goleiro claramente evidencia o canto em que vai saltar, Santiago percebe, mas centímetros antes de chegar a bola, o mesmo escorrega e a bola novamente foi “soprada” para fora, o resultado se manteve, e novamente atribuo a Deus tal feito, o Peñarol está na final da Libertadores.
Depois de hoje, no caso ontem, ratifiquei a existência de Deus e, pasme CARO LEITOR, ele é URUGUAIO.