domingo, 21 de agosto de 2011

Desvendando o Código Da Vinci – Uma Análise sobre o Momento do Galo

Partindo do princípio que gambá não consegue sentir o próprio cheiro, evito fazer posts sobre o Galo (meu time do coração), simplesmente para evitar que o coração fale mais do que meu senso crítico. Entretanto essa situação vexatória é emblemática e merece ser discutida, e como atleticano não posso me omitir em uma situação como essa. Segundo ano consecutivo na luta contra o rebaixamento, e se não me engano com uma pontuação inferior ao time de 2010, nessa mesma altura do campeonato. Mas o que está acontecendo? Por que não engrena? O que o time tem de errado? O que a diretoria fez de errado? É meus caros, entender a situação do galo é um processo complexo. Mas vamos lá.


Começarei pelo histórico, entender o Atlético, principalmente a partir do advento do Mineirão, ajuda um pouco na compreensão da atualidade. Desde criança, meu pai me contava várias histórias dos grandes times formados pelo Atlético, de Humberto Ramos, Dadá Maravilha e Lola em 71; Da grande geração de Reinaldo, Cerezo, Eder, Luizinho, na década de 80. O que essas duas grandes gerações tinham em comum? Jogadores brilhantes formados em casa, na velha Vila Olímpica, e alguns forasteiros com o espírito e compromisso com o Atlético. Sem grandes medalhões, o Galo fazia frente aos maiores times do Brasil, tanto que em 71 venceu o Santos do Rei Pelé, e na década de 80 era o maior rival do Flamengo de Zico, Adílio, Junior e Companhia limitada. Só que esses grandes times, seja por azar (Campeonato Brasileiro de 77, vice invicto); competência dos adversários (semifinais de 76 e de 88 contra Inter e Flamengo respectivamente); ou até influência externa, José Roberto Wright que o diga na fatídica Libertadores de 1981, acumularam mais fracassos de que vitórias.

Tais resultados, ao que parece pressionaram as diretorias do Atlético principalmente a partir dos anos 90 a mudar a fórmula, técnicos com relativo sucesso em outras praças, e um caminhão de jogadores que passaram por Belo Horizonte, talvez apenas para conhecer as belas garotas de BH e tomar o dinheiro do Atlético.

A SeleGalo de 1994, é o exemplo clássico. Porém, tanto investimento sem certa sustentabilidade não pode dar certo. O Futebol está sujeito às leis de mercado, se você compra mais do que vende, sua balança ficará sempre pendendo ás dívidas, e se você se esquece do seu celeiro (as categorias de base), a chance de venda com algum lucro fica mais escassa ainda. De 1990 até hoje, o alvinegro não teve um jogador formado na Vila Olímpica ou já no CT que se transformou em titular da seleção brasileira. Outro fator determinante foi que ao mesmo tempo em que o Atlético gastava tubos de dinheiro e aumentava sua dívida nas péssimas gestões de Paulo Cury e Afonso Paulino, o maior rival, o Cruzeiro, vinha em processo oposto, em seu período mais vitorioso, títulos e bons negócios e logicamente com crescimento assustador de sua torcida impulsionada pelo sucesso do time. Mas enfim, não estou aqui para falar de Cruzeiro. Voltemos ao foco do texto.

A partir dos anos 2000, já com os cofres fragilizados, o Atlético viveu o período em que foi administrado pelos banqueiros: Nélio Brant e Ricardo Guimarães respectivamente. Se esperava que esses dois especialistas em gestão dessem um jeito na máquina onerosa que se tornou o Atlético, porém o pior aconteceu, ambos pressionados por resultados tentaram apagar o fogo com gasolina, melhor dizendo com empréstimos milionários.

Se o time obtivesse algum sucesso, ok dinheiro seria pago com vendas de jogadores, mas o pior aconteceu e ambos os presidentes formaram times que não deram retorno financeiro nenhum, o número de causas trabalhistas e de contratos milionários aumentou absurdamente, por consequência a dívida nesse período (exceção aos campeonatos de 1999 e 2001 com Nélio Brant, e 2003 já com Ricardo Guimarães, ambos acompanhados do até então diretor de futebol Alexandre Kalil). Resultado não poderia ser diferente – Segunda Divisão.


A queda obrigou o Galo a enxugar o orçamento, jogadores como Tesser, Chaves, Gedeon, Marinho entre outras babas começaram a figurar entre os titulares, porém era inevitável, o Atlético não tinha dinheiro, e o pouco que restava era destinado  ao término do tão sonhado CT, que seria talvez o primeiro passo para o renascimento, bem como ao pagamento das infindáveis dívidas trabalhistas.


Chega o ano de 2009 com passional Alexandre Kalil (muito mais um torcedor-dirigente do que um dirigente-torcedor), responsável pela formação dos dois últimos times do competitivos do Atlético. Junto dele, um choque de gestão. Diretores demitidos, setor de marketing fechado, esporte especializado terminado. Kalil chegara com a filosofia que todo dinheiro do Atlético teria que ser revertido para o futebol e com boas campanhas ele conseguiria atrair novos investimentos capazes de levar o Atlético ao topo.

Enfim, foi montado um time modesto primeiramente com o técnico Leão no comando que após a derrota no campeonato mineiro foi trocado por Celso Roth. Roth, treinador contestado conseguiu unir os jogadores liderados pelo craque Diego Tardelli de tal maneira que depois de muitos anos, o Atlético liderou o Brasileiro, a apaixonada torcida destruída pelos péssimos resultados dos anos anteriores voltou ao estádio, eram 50.000 no mínimo em todas as partidas. Entretanto, o time esbarrou em suas próprias limitações, e perdeu o fôlego no fim do campeonato. Mas o trabalho foi bom, uma semente havia sido plantada. Esperava-se que Roth pudesse ser mantido para dar sequencia ao projeto que começou, mas em uma atitude intempestiva o presidente demitiu o treinador pelo telefone. E o futebol meus caros, Castiga.  O planejamento de gastos racionais foi jogado pelo ralo com a chegada do técnico mais caro do Brasil, Wanderlei Luxemburgo e toda sua trupe, melhor dizendo: comissão técnica. Jogadores como Obina, Diego Souza, Rever, Daniel Carvalho, Zé Luiz entre outros medalhões foram contratados para se juntar à base do bom time de 2009. Mas deu tudo errado, os deuses ao que parece puniram o Atlético, apesar da vitória no campeonato mineiro, a campanha no Brasileiro foi pífia chegando ao ponto da lanterna e do quase rebaixamento.

Mas ao que parece os Deuses deram mais uma chance ao Galo, que atendia pelo nome de Dorival Jr, o técnico promissor promoveu uma revolução no time que em uma arrancada espetacular conseguiu escapar do rebaixamento. Tudo indicava que com Dorival o Atlético voltaria ás boas, parecia que ia dar tudo certo. O time contava com o bom Renan Ribeiro, goleiro das categorias de base do clube, peça fundamental para fuga do rebaixamento por conta de suas defesas.

Havia montado uma zaga sólida: Leonardo Silva, que fez um bom campeonato pelo Cruzeiro se juntaria a Rever, que foi convocado duas vezes para seleção brasileira por suas boas atuações pelo Atlético; no meio campo o polivalente Richarlyson foi contratado para ajudar Zé Luiz na destruição; na criação Diego Souza que havia chegado fora de forma, teria uma pré-temporada, tinha tudo para ser o líder do time; e na frente o poderoso ataque formado por Diego Tardelli e Obina, teria boas opções no banco de reservas nas figuras do experiente Magno Alves, do velocista Neto Berola e dos bons Wesley e Jobson, um elenco poderoso o bastante para brigar pelo título brasileiro. Mas com o Galo, o que está dando certo tem que dar errado, é incrível. Obina foi liberado ao futebol Chinês, Diego Tardelli foi vendido ao futebol Russo. Diego Souza, Ricardinho, Zé Luiz e Jóbson tiveram problemas disciplinares com o técnico Dorival Jr e  foram afastados do elenco. Moral da história, o esqueleto montado a duras penas em 2010 foi jogado no lixo e um novo time teria que ser montado com o campeonato em andamento.


Em um primeiro momento, jovens valores como Soutto, Giovanni Augusto e Bernard foram promovidos das categorias de base do clube. Os garotos fizeram um bom campeonato mineiro, o Galo encarou o Cruzeiro (versão Barcelona das Américas) de igual e quase saiu campeão (não é Magnata?!). Parecia que o time de garotos, com um plus das novas contratações (atacantes Guilherme e André, e o volante Dudu Cearense) daria conta do recado, mas como posso dizer: Garotos ganham jogos e homens ganham títulos. Um time com Patrick e Guilherme Santos nas laterais, Toró na cabeça da área, Magnata no auge dos seus 34 anos no comando de ataque e um bando de moleques não daria certo, como não deu. Dorival acumulou derrotas pesadas (4x1 Flamengo; 3x0 contra o Inter e 3X0 contra o Ceará em seguida) e consequentemente perdeu a confiança dos jogadores e da torcida, principalmente pela insistência em alguns nomes. A Demissão era questão de tempo, como ocorreu. Cuca, ex-técnico do rival Cruzeiro assumiu o time acumulando 4 derrotas e a volta para zona da degola.


Diferentemente do ano anterior, que o Atlético tinha nomes capazes de reverter a situação de crise, dessa vez a responsabilidade está nas mãos de um técnico depressivo, que em 14 trabalhos só ganhou dois títulos estaduais (1 campeonato Carioca e 1 Campeonato Mineiro) e salvou o Fluminense do Rebaixamento, nos pés de alguns garotos de grande potencial, mas que ainda não estão prontos para tal reponsabilidade, e nos medalhões restantes, diferença que esses não tem perfil de Atlético: Daniel Carvalho, Guilherme, Dudu Cearense, Rever, não tem fibra, não conseguem virar situações difíceis na vibração, como Tardelli, Obina e Diego Souza fizeram no ano anterior. Ou seja, infelizmente se um fato muito extraordinário não acontecer, a segunda divisão é iminente.

Talvez um segundo calvário seja benéfico, para que os dirigentes entendam a importância de um projeto coerente e saudável com as finanças do clube. Entendo que com pelo menos 10 anos de boas administrações possamos voltar às glórias, mas é muito tempo para uma torcida que está a 40 anos esperando um título.

O jeito massa é torcer como sempre torcemos.