Nesse Sábado, 16 Julho começa a
fase a final da Copa América. Competição não tem de longe o glamour, nem a
qualidade técnica de uma Euro-Copa, mas talvez pelo fator sentimento, despertado
pelos torcedores e transmitido aos jogadores crie uma atmosfera diferente,
fabulosa dentro da cancha (Tal relação é semelhante na Copa Libertadores).
As principais seleções
concorrentes ao caneco conseguem transmitir aos seus torcedores e a quem
acompanha o jogo esse tipo de sensação, cada uma ao seu estilo. Nesse contexto,
o objetivo deste pequeno texto é caracterizar as grandes seleções pelo viés sentimental/cultural que as mesmas carregam.
Começarei pela Seleção
Paraguaia. Um país paupérrimo, arrasado
em uma Guerra por querer certa independência, por querer andar com as próprias
pernas, pela famigerada igualdade social (é meus caros, essa foi a guerra do
Paraguai - incrível pensar assim). Dois séculos se passaram e o país ainda
sente reflexos conflito. Porém, a Guerra e os ideais embutidos na mesma,
criaram uma sensação de união no povo difícil de dissociar. Tal relação se
reflete na manutenção do idioma guarani. Dentro das quatro linhas,
principalmente durante a campanha da Copa do Mundo, desde as eliminatórias, a
Seleção Paraguaia, formada por jogadores que em suma atuam no futebol Europeu,
Argentino e Mexicano decidiram que se comunicariam no idioma de seus
ancestrais, dentro de campo abandonariam o espanhol. Nessa aproximação com o povo, expressada pela
língua acabou por gerar duas consequências claras. Em Jogos no Defensores
del Chaco, os Paraguaios são imbatíveis,
que o diga a Seleção Brasileira.
E principalmente, dentro de campo os
Paraguaios jogam com uma consistência defensiva exuberante, parece que os
jogadores não estão defendendo somente a meta de JustoVillar, mas sim um prato
de comida, ou melhor estão defendendo um país. Parece que eles querem dizer que:
há dois séculos seus antepassados foram sobrepujados em guerra, mas dentro de
campo os adversários terão que suar sangue para bate-los. Tanto que na
Copa do Mundo da África, com certeza
absoluta, o jogo mais encardido da Campeã Espanha foi contra os Paraguaios, que
sem exagero nenhum poderiam ter saído com uma vitória épica daquelas quartas de
final.
Para falar da seleção chilena,
recorro à frase do narrador Galvão Bueno: “ o Chile não quer nem saber, vai pra
cima”. Desde os tempos de Marcelo Salas e Iván
Zamorano, a seleção Chilena não tem medo do tamanho de seus adversários,
ela sempre ataca independentemente.
Diferente da seleção Paraguaia, que por motivos históricos a relação se
desencadeou de fora pra dentro, na seleção chilena a relação se deu de dentro
para fora. A postura da seleção contagiou o povo. Um povo fragilizado pelos terremotos que
arrasaram parte do país, que encontrou em sua seleção um motivo de ânimo
(relação parecida ocorreu nos EUA, entre o time de futebol de Nova Orleans, o
New Orleans Saints e a população da cidade, pós o Catrina).
O mais importante, a atual seleção ajuda e
muito tal aproximação. O time comandado
por Claudio Borghi é excelente, a melhor geração chilena de todos os tempos.
Aléxis Sánchez, ponta da Udinese,
velocista; exímio driblador e detentor de um chute poderoso é alvo de tiroteio
entre os maiores clubes do mundo por sua contratação. O sóbrio volante Arturo
Vidal, do Leverkusen e Matias Fernandes, enganche clássico do Sporting de
Portugal são a espinha desse time envolvente.
Com Relação à Argentina, irei me
ater apenas a história futebolística.
Nossos vizinhos, assim como nós, se gabam de praticar o melhor futebol
do mundo. Não estão de todo errados, a escola portenha, caracterizada por um
jogo de passes, cadência e muita habilidade, além da velha garra apresentou ao
mundo grandes times, bem como grandes craques.
Diego Armando Maradona, o maior deles.
Através de atuações esplendorosas,
carregando times limitados a suas costas criou uma relação de quase que
adoração entre os argentinos. Com Diego
a Argentina venceu a Copa de 86, chegou a final de 90 e abocanhou várias Copas
Américas e coincidentemente, desde que o mito pendurou as chuteiras, a
Argentina vive um jejum de grandes conquistas e viu seu maior rival, o Brasil,
ganhar duas Copas do Mundo e Duas Copas
das Confederações e Quatro Copas América. Porém os argentinos tem uma nova
esperança, um gênio, que aos 24 anos já foi escolhido por 3 vezes melhor jogador
do mundo, já venceu duas Champions League e é de longe o melhor jogador do
planeta, Lionel Messi. A mística camisa 10 voltou, e o moral do argentino
voltou junto desse símbolo.
Por fim o Uruguai. País de pouco
mais de 2 milhões de habitantes, com pirâmide etária invertida, ou seja
proporção menor de jovens e
consequentemente falta de “pé de obra qualificado”. Mas os Uruguaios tem
tradição, de duas Copas do Mundo e duas Olimpíadas. Tradição essa que vinha se
perdendo com uma sucessão de fracassos, maior deles a derrota na qualificação
para a Copa do Mundo de 2006, resultado vexatório contra a fraca Austrália.
Algo tinha que ser feito, e o revolucionário da vez atende pelo nome de Oscar
Tabárez, técnico que assumiu não só a seleção principal, como a coordenação de
todas as seleções, desde a sub-15. Tabárez implantou uma filosofia pautada em
três pontos principais.
No garimpo de jogadores, um peneiraço foi realizado no
Uruguai; Na educação dos mesmos, não adianta formar só atletas, teriam que
formar homens; e no entendimento do que eles representam - a
Celeste, não é só uma seleção de futebol, mas a camisa é o símbolo de superação
de um pequeno país, que desde as olimpíadas de 24 e 28 sempre disputou de igual
para igual com as potências do futebol, revertendo qualquer prognóstico. A
brilhante campanha na última Copa, o quarto lugar e talvez uma das vitórias
mais impossíveis que o futebol já viu naquelas quartas de final contra Gana,
ratificaram o bom trabalho. O “sí se puede”, e o “Vamos que Vamos”, viraram
bordões nacionais e a camisa Celeste ressuscitou juntamente com o orgulho dos
Uruguaios.
Como o próprio título do texto já
diz no quesito sentimento existe uma exceção, e infelizmente é a seleção
brasileira. Por conta da soberba da Confederação Brasileira de Futebol e de seu
presidente, a seleção desde a conquista da Copa de 2002 e a dissolução da
família Scolari, vem se distanciando cada vez mais do povo brasileiro,
apaixonado por futebol. A seleção joga cada vez menos em solo nacional (o
Brasil faz mais jogos em Londres do que no Rio de Janeiro, São Paulo ou em Belo
Horizonte – isso é inadmissível!), e quando joga, o preço do ingresso, sempre
salgado, acaba afastando de vez o grande público, as massas. Aqueles torcedores
que de fato respiram futebol e acima de tudo, aprenderam a venerar a seleção. O
ambiente de jogo fica repleto de torcedores de ocasião, de endinheirados que
encaram a seleção como símbolo de ascensão social ou coisa do tipo, tornando o
estádio insosso e pouco representativo. Os jogadores cada vez menos interessados em
atuar pela seleção tem culpa nisso também, o Brasil jogou e venceu as duas
últimas Copas América com times reservas, sem as grandes estrelas. O rótulo de
seleção mercenária cresce cada vez mais no imaginário popular. E com
preocupação que venho escutando que o torcedor de verdade se preocupa mais com
seu clube do coração do que com a seleção brasileira, ou seleção da CBF, como
muito bem caracterizou o jornalista Mauro Cesar Pereira da ESPN. Na história o
Brasil não tem muitos personagens que se transformaram em símbolos nacionais. E
o futebol principalmente nos anos 50/60 serviu como um catalisador para o
orgulho nacional. Pelé, Garrincha, Zico, Falcão, Romário e Ronaldo, entre outros
craques, são heróis de uma nação. A camisa amarela sempre foi orgulho para o
brasileiro, e isso está se PERDENDO.
Enfim, é triste ver os vizinhos com seleções
que de fato representam as respectivas nações e a nossa por motivos torpes de
uma administração questionável, de um presidente que tem muito mais contras do
que prós, arriscar a jogar toda uma história no lixo. Jogar a relação da
seleção brasileira com o povo no lixo. E isso meus caros, é grave e pode ser
fatal para o nosso futebol em longo prazo.