terça-feira, 22 de novembro de 2011

Superação! O Futebol e o Canto do Ringue!


Após de um longo e tenebroso inverno sem escrever absolutamente nada sobre o bom e velho esporte bretão.  Aproveito esse fim de semana mais ou menos a toa para falar de um lugar sagrado, cruel, milagroso e tenebroso ao mesmo tempo: O famoso Canto do Ringue! Todo lutador que se preze talvez  tenha escutado como primeira lição na academia a seguinte frase: “Nunca, jamais, sob hipótese alguma” seja acuado/levado até as cordas no caso do box ou para as grades do octógono, nessa onda de MMA que vem tomando conta do Brasil. Tal orientação é óbvia, se por um acaso o lutador for parar nesse lugarzinho inglório quer dizer que o mesmo foi dominado, seja por “fórceps” seja por estratégia. E ali meus amigos, é você de costas para a parede, muito provavelmente todo arrebentado por um adversário tecnicamente superior, desgovernado querendo te matar a menos de um metro de distância. Mas o que de interessante tem nesse lugar de domínio absoluto, do massacre, da finalização?  Pergunta você caro leitor desse blog, ou seja lá quem for?  Nesse caso respondo, o interessante nessa brincadeira são as exceções.

Alguns lutadores especiais arrancaram vitórias completamente improváveis saindo dali, é o momento da superação, da vibração, de tirar forças de onde não tem, de aguentar firme pancadas muito fortes, para em seguida apesar de todo esgotamento, principalmente mental tentar dar a volta por cima. Talvez dois nomes me venham a cabeça nesse momento um real e um fictício (já que o cinema também é uma das minhas paixões) . O primeiro é do saudoso Joe Frazier, um dos únicos 3 lutadores a vencer Mohammed Ali, e foi nessa luta épica contra o ((talvez)) maior boxeador de todos os tempos que Frazier mostrou seu valor quando acuado nas cordas em um soco saindo não sei de onde que mandou Ali para a lona.

O segundo exemplo é de uma das maiores referências da minha vida, o maior campeão dos cinemas, Rocky Balboa. Personagem interpretado por Silvester Stallone saído das ruas da Philadelfia era um lutador limitado que através de muito treinamento conseguiu alcançar outro nível de competição a ponto de desafiar o campeão Apollo Creed, e nessa luta contra o mais forte, mais rápido e mais bem preparado lutador Balboa foi acuado, massacrado. Porém movido pelas suas lembranças (das dificuldades de sua vida e da sua bela Adrian) Balboa conseguiu igualar as ações “na raça” e arrancar um empate épico ao fim do longa (desculpem pelos spoilers).

E onde entra o futebol nisso tudo? Assim como nas lutas, a alegoria do canto dos ringue é presente. Talvez o ludopédio seja um dos únicos esportes coletivos que permitam que o mais fraco vença, ou melhor que o time acuado em um tempo ou em uma parte do campeonato dê a volta por cima no segundo tempo, ou no segundo turno quem sabe. Tem também aqueles times que se deixam agredir, jogam defensivamente esperando o momento certo para a estocada final, para o soco que levou Ali às lonas. Me vêm a mente alguns exemplos clássicos. Quem não se lembra da vitória do Liverpool sobre o Milan na final da Champions de 2005. Os rossoneros viraram o primeiro tempo vencendo por 3x0 com uma atuação primorosa do quadrado Shevchenko, Kaka, Crespo e Seedorf. Ao intervalo a torcida dos Red’s mesmo com o jogo perdido cantava o tradicional You Will Never Walk Alone. Do jeito que as coisas aconteciam o mais lógico seria a consolidação da goleada, há época o Milan era o melhor time do mundo e o Liverpool havia chegado àquela final aos trancos e barrancos com vitórias mais no grito da torcida do que qualquer outra coisa. Mas de onde nada se esperava, eis que acontece o milagre. Um empate na segunda metade do jogo, que levou a peleja à disputa por penaltys, onde o goleiro Dudek se transformou no herói da noite ao defender duas cobranças.

Em terras tupiniquins o técnico Cuca vem se tornando PHD em voltas por cima, seu Fluminense em 2009, virtualmente rebaixado pós uma campanha pífia no primeiro turno arrancou incrivelmente na segunda metade do campeonato, com uma campanha de título no segundo turno que culminou com a incrível vitória sobre o Coritiba em um jogo de tensão e muito quebra, quebra no Couto Pereira. Dali do canto do ringue surgiu o apelido: “time de guerreiros” que embalaria o Flu, no ano seguinte para a conquista do Título Nacional.

O mesmo Cuca, em 2010 assumiu um Cruzeiro atordoado pela eliminação na Libertadores na parte intermediária da tabela, num campeonato onde a perspectiva não era das melhores para guiar o time azul (jamais usarei o adjetivo celeste me desculpem) à um vice campeonato. Nesse ano Cuca foi protagonista novamente com uma arrancada, só que dessa no outro lado da lagoa. Muitos comentaristas , inclusive o blogueiro que vos fala já dava como certo o rebaixamento do Galo. O Próprio Cuca teve  um início claudicante com 7 derrotas consecutivas, isso mesmo 7 derrotas! E mesmo assim o improvável aconteceu, o alvinegro a beira de um Knock Out conseguiu sair do canto do Ringue do Brasileirão, principalmente por conta do desempenho como mandante no segundo turno (6 vitórias e 2 empates) e da incrível vitória diante do atual campeão Brasileiro o Fluminense, no Engenhão. O Galo que já havia vivido situação parecida no ano passado conseguiu se safar novamente.

Agora quem está no canto do ringue pronto pra ser massacrado é o Cruzeiro, fato curioso para um clube que nos últimos anos se gabava por sempre fazer campanhas na parte de cima da tabela, mas nesse campeonato está na rabeira lutando contra o Ceará e o Atlético Paranaense na zona do rebaixamento.  Um time sem ataque e sem defesa, dependente da genialidade de um camisa 10 desgastado fisicamente e mentalmente. Será que o time estrelado sai dessa? Ou é nocauteado?

Para fechar esse texto retomo ao começo, nunca se deixe levar ao canto do ringue. As viradas são prováveis, mas não acontecem sempre. Na verdade, na maioria dos casos essa fragilidade é refletida em derrota. Retomando novamente Ali só perdeu 3 vezes em sua carreira, nas outras lutas o mesmo foi dominante e ratificou seu domínio.  Apesar de grandes viradas serem bonitas de se ver, realmente gerarem grandes histórias para serem contadas,  são reflexo de fragilidade física, emocional, tática e até de planejamento. Apesar de atenuarem, elas não encobrem o fato dos times em questão terem sido em certo momento dominados ao ponto de quase irem a lona.


* Nota que um dos motivadores desse texto foi o jornalista e blogueiro Lúcio de Castro da ESPN, que também ja discutiu algumas vezes brilhantemente a metáfora do canto do ringue.

2 comentários:

  1. O canto do ringue é, muitas vezes, um não-lugar abrangente e habita todas as esferas sociais e acontecimentos de nossas vidas. Nele a vitória nascerá apenas com ombridade, (re)conhecimento, reflexão e, sobretudo, garra para reverter o quadro. Parafraseando uma professora que marcou minha educação digo: "Só conhece quem já esteve lá!" No UFC, no Boxe ou na reta final do Brasileirão a máxima da grande virada se aplica, ignorando palpites alheios e a aritimética probabilística. E independente de ser Alvinegro das Alterosas acredito que a queda do Arquirrival, desconhecendo quando ou como, ocorrerá. O tempo dirá...

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  2. Matheus, o senhor de winterfell dos textos gigantes! Saudações azuis CELESTES!

    Apenas duas observação:

    1 - spoiler do rocky foi ótimo.
    2 - O Frazier, apesar de derrotar o gigante Ali (se pá o maior herói americano muçulmano - Malcom X talvez?), virou vilão. O que pode ser tema do seu próximo texto...

    - No mais é isso.

    Alfredo.

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