terça-feira, 1 de março de 2011

Incompreendido e Incompreensível


O velho ditado: de gênio e louco todo mundo tem um pouco, é uma verdade quase que incontestável no universo dos treinadores . Nesse último fim de semana, um episódio em especial me chamou a atenção. Refiro-me a demissão do técnico Adilson Batista após o empate contra o modesto São Bernardo pelo Paulistinha (peço licença ao grande Juca Kfouri para me apropriar do termo). Com apenas 2 meses de trabalho, e ao meu ver uma campanha no mínimo razoável (5 vitórias/5 empates/1 derrota), um aproveitamento de 60,5% dos pontos,  o técnico não resistiu a pressão da torcida que acabou colocando a diretoria santista na parede. Nesse contexto a seguinte questão aparece: Por que diabos o trabalho não deu certo?
Talvez a metodologia do técnico atelada á sua teimosia sejam as hipóteses mais confiáveis. Adilson é um técnico moderno na acepção da palavra, extremamente estudioso e versátil. Sua passagem pelo Cruzeiro e a forma como o qual o time celeste atuava sob sua batuta ajudam a entendê-lo de forma mais clara. Muitos maldosos aqui das Minas Gerais o rotulavam de retranqueiro/professor pardal/etc. Por conta do mesmo escalar seu time sempre com três volantes, além de fazer diversas improvisações, principalmente nas laterais. Porém, poucos entendem o conceito implantado pelo técnico. O meio de campo do Cruzeiro vice-campeão da Libertadores lembrava um losango, com Marquinhos Paraná na frente da defesa, Ramires e Fabrício fechando as laterais e o Wágner na outra ponta articulando as ações. Marquinhos Paraná, homem de confiança do técnico, exercia uma função diferente para o futebol brasileiro, não era um volante cabeça de área qualquer; era um autêntico Regista (função característica do futebol italiano, criada e difundida pelo saudoso Arrigo Sacchi, efetuada com maestria por Andrea Pirlo no Milan de Carlo Ancellotti e na Itália campeã de 2006), ou seja, o primeiro armador, o regente, aquele que organiza as ações. A saída de bola do time desde a chegada do Paraná se tornou extremamente eficaz, possibilitando aos velozes Ramires, Fabrício e Thiago Ribeiro acelerassem as ações o último terço do campo.  Apesar de boas campanhas tanto no Estadual quanto na Libertadores e no Brasileiro, devido a desgaste com torcida, diretoria e parte dos jogadores, o técnico deixou a  Toca da Raposa.
Cruzeiro versão 2010, com Henrique e Montillo ocupando as  vagas de Ramires e Wágner. Fonte: (http://globoesporte.globo.com/platb/olhotatico/2010/10/18/virada-gremista-teve-raca-sorte-tecnica-e-tatica/)

Em seguida surgiu uma oportunidade de ouro ao professor, o Corinthians – líder do campeonato brasileiro – ficara sem técnico devido a saída de Mano Menezes para Seleção. O time do Parque São Jorge era mais rígido; mais estático, seus volantes mais vigorosos do que brilhantes. Mesmo com a diferença de característica, Adilson tentou escalar o mesmo losango com Ralf na cabeça da área, Elias e Jucilei fechando as laterais e Danilo na outra ponta. Muito mais transpiração do que inspiração. O fracasso era questão de tempo, e com menos de 3 meses de trabalho o mesmo foi demitido.
Chega 2011, Adilson tem nas mãos (talvez) o melhor time do Brasil, com as estrelas Neymar, Paulo Henrique Ganso e Elano (titular da seleção brasileira na última Copa do Mundo). A princípio o mesmo não contava com as estrelas. Neymar defendia a seleção sub-20 e Ganso continuava em recuperação de sua contusão, entretanto o Santos tinha um estilo, mesmo sem as estrelas o time deveria ser escalado com três atacantes (Maikon Leite, Zé Eduardo e Keirrison ou Diogo), mesmo assim o técnico insistiu na sua convicção - 4-1-2-1-2 com três volantes. Possebom, Elano e Arouca com Róbson efetuando a ligação.  Empates e atuações burocráticas foram a mistura necessária para o gran finale da tragédia grega representada pelo treinador.
Adilson ao Final do Jogo contra o Santo André. Fonte:  Ag. Estado

Concluindo, o grande erro do Adilson foi insistir na mesma fórmula em duas agremiações com peças de características totalmente diferentes das utilizadas com sucesso no Cruzeiro. Agora Adilson deve parar um pouco, refletir, se reinventar, pois potencial e inteligência para brilhar o mesmo já provou que tem.

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