quinta-feira, 3 de março de 2011

O TÉCNICO, O JUIZ E O BANDEIRINHA

*Crônica escrita pelo amigo e colega Paulinho Pavaneli, primeiro colaborador desse Blog, a ser publicada em seu novo livro: “Vagabundo é o cacete! – Sugestões para trabalhar honestamente evitando assim a tentação de entrar para o Crime Organizado ou para a Quadrilha do Colarinho Branco”. ((Escolha, Edição e Editoração de imagens feitas pelo blogueiro.))

Cena do Filme Boleiros 2.

Se não são profissões novas, alcançaram tal projeção que constituem um campo aberto de oportunidades de emprego, que não pode ser ignorado pelo pessoal que anda urrando por aí atrás de um trampo.
Não teriam sentido nenhum se não sofressem a vigilância do torcedor, esse fanático religioso capaz de atravessar o gramado de joelhos quando o seu time ganha o campeonato.
Desvario na vitória, desespero na derrota, esses são os limites do torcedor. Dinheiro contado, toneladas de esperanças, outras tantas de frustrações reprimidas. Prontas para transbordarem, conforme o desenrolar da peleja, principalmente quando a cor do pavilhão joga em casa, bem na sua frente.
O time precisa vencer ou vencer e joga na retranca. O técnico, aquele sem-vergonha, quer manter o emprego. Como qualquer mortal tem contas a pagar, acha que o empate é bom resultado. Calcula o ponto ganho, na verdade perde dois.
Folclórico Técnico Joel Santana.

O time precisa vencer ou vencer e joga pra frente. O técnico, aquele ordinário, acha que não tem adversário, esquece que sua zaga é uma bosta. Logo, logo, os homi engatam um contrataque mortal e pronto: 1 x 0 pra eles.
O time pode empatar e joga na retranca. O treinador, aquele ignorante, escala o time com 3 zagueiros, 3 cabeças-de-área, 2 alas recuados, um cara sem imaginação no meio-de-campo, o goleiro, aquele frangueiro descarado, e o centro-avante, Robinson Crusoé sem Sexta-Feira, enfiado entre os zagueiros adversários, a bola nunca que chega, quando chega vem quadrada. E aos 48 do segundo tempo um escanteio contra e aquele armário adversário salta sozinho no meio da zaga reforçada e mete de cabeça e 1 x 0 pra eles.
O time pode empatar e joga pra frente, o treinador, aquele desajustado, escala um time em que ninguém marca, ninguém tem o hábito de ir na bola dividida como se fosse um prato de comida, neguinho toca pro lado, faz firula, tico-tico-no-fubá, o ataque perde uma série incrível de gols feitos e, no contrataque, 1 x 0 pra eles.
A unanimidade é o técnico, o treinador, aquele sem-vergonha, ordinário, ignorante, desajustado, que veio ao mundo com a missão de errar quando escala, quando substitui, quando deixa de escalar, quando deixa de substituir, deixando no banco aquela promessa que fez três gols no apronto da sexta-feira, ou quando tira da reserva aquele come-e-dorme, ex-jogador em atividade, coroa que já devia ter pendurado as chuteiras.
O técnico, aquele arrogante que não ouve a torcida, só não ganha o troféu antipatia porque existe um habitante dentro das quatro linhas ainda mais desprezível... o juiz!
O juiz... é um infeliz. Único animal irracional obrigado a ter duas mães: a que deixa em casa em meio a orações e a que leva para o campo para ser xingada e vilipendiada.
Carlos Eugênio Simon, em sua última partida de Copa do Mundo

O machismo da torcida é tão forte que não faz a menor diferença quem é ou deixa de ser o pai do juiz, que nunca sai no jornal, nunca é procurado para entrevista, é um inútil.
Discute-se até, nas diversas galeras, se o juiz foi produzido pela tradicional conjunção entre aquele espermatozóide bêbado, que chegou na frente dos colegas empurrado quando souberam que o cara ia ser juiz de futebol quando crescesse, com aquele óvulo solitário doido para ser fecundado.
Se o juiz acerta é vaiado. Se erra, também. Se apita bem 89 minutos e erra no minuto final, coitado...
O pênalti é uma tortura.
A falta perto da área, um desespero.
O escanteio, um desassossego.
O impedimento, uma agonia...
O problema do juiz é parecido com o do jogador perna-de-pau, é a bola redonda que corre demais. Perdeu muito com a invenção do videoteipe, porque a dúvida que encobria o seu crime transforma-se em certeza quando o lance é repetido dos mais diversos ângulos e assim, sem álibi, é condenado de qualquer jeito.
Condenado pela sorte que deu quando, em lance duvidoso, resolveu marcar aquele pênalti que só foi confirmado quando repetido na televisão, mas... já tinha levado vaia, na hora, do torcedor que foi ao campo e que achou que não foi porque foi contra o seu time de coração.
Condenado pelo azar que deu, marcou errado na hora aquela falta discutível, levou a vaia no campo e durante a semana inteira sua mãezinha, aquela que ficou em casa rezando, foi achincalhada, o jogo acabou 3 a 2 mas parece que foi 33 a 22, de tanta repetição.
O juiz é um ser sem perdão. Não se sabe se dorme direito, ou se dorme. É um solitário carente de assistência psicológica vinte e quatro horas. Nunca pode realizar seu sonho de pegar na bola e dar um chute, então só lhe resta atrapalhar. Deve ser por isso que tem juiz que prefere apitar o fim do jogo quando a bola está perto dele, quando se aproxima do seu objeto de desejo, abraça-o, apita o fim da partida e leva a bola pra casa.
A outra sorte do juiz, além da segunda mãe, é a existência do bandeirinha, aquele espantador de muriçoca, que hoje ganhou a imponente denominação de assistente.
O Bandeirinha, anulando (equivocadamente) o momento maior do Futebol.

Tem hora que o bandeirinha usa seu instrumento de trabalho apenas para espantar o calor, o juiz olha e apita impedimento quando a bola ainda está no campo do time que se apossou da bola e não tinha nem um jogador seu no campo do adversário.
Perto da torcida, o bandeirinha ouve palavrões bem no cangote, coleciona garrafas para vender no dia seguinte, rádios de pilha para ouvir os comentaristas desancarem sua atuação, latas, pedras e outros objetos identificados que são lançados pela multidão doadora enfurecida e farão parte da sua coleção.
Esses três personagens, curiosamente, parecem de ficção. Você já encontrou algum ex-juiz, ex-bandeirinha, ex-treinador, num botequim? Eu também não.

ass. Paulo Pavaneli

Nenhum comentário:

Postar um comentário